Sobre
mim
Tínhamos
na cozinha um móvel, mesmo encostado à porta que dava para a varanda, nele
havia duas gavetas, uma minha e outra da minha irmã gémea, lá guardávamos as
nossas traquitanas, na minha havia lápis, canetas e outros objectos riscadores,
lembro-me de passar muito tempo debruçada sobre aquele móvel a desenhar. Ao
contrário das outras crianças que diziam querer ser médico, bombeiro,
cabeleireiro eu sempre quis ser pintora. O contacto mais próximo que tive com a
pintura era o pai, ele era pintor decorador e naquele tempo como não havia
impressão digital tudo era pintado, letras e imagens e eu gostava de ver o pai
pintar. Tínhamos na sala um quadro (cópia) de Turner, The Fighting Temeraire, eu adorava aquele quadro, as manchas do céu
e do mar, mais tarde quando visitei o National Gallery em Londres e vi alguns
quadros deste artista não consegui esconder a emoção, ali estava eu chorosa.
Estava
na minha adolescência quando a mãe faleceu, nem mesmo este acontecimento me
demoveu de continuar de querer ser pintora. Fiz o ensino básico no antigo
Magistério Primário, continuei os estudos na Escola Pedro de Santarém em
Benfica e antes de ir para a Escola Artística António Arroio frequentei a
Secundária da Damaia, o meu local de residência, Ingressei na Faculdade de
Belas Artes de Lisboa em 1990 /91, cinco anos depois concluí o curso de
Pintura. Durante o tempo de faculdade fui trabalhadora estudante, trabalhava na
empresa do pai, a minha primeira profissão foi aquela que tanto vi o pai fazer
na minha infância. Fui fazendo algumas exposições até que sem me aperceber a
pintura foi perdendo espaço na minha vida, dediquei-me à minha profissão de que
tanto gostava, trabalhei horas a fio, dias, noites, sábados, domingos e
feriados.
Comprei
uma máquina fotográfica e fui fazendo uns registos. Fui mãe quase aos 31 anos.
Fiz uma pausa de cinco anos na pintura.
Quando
recuperava de uma cirurgia ao joelho retomei a pintura de uma forma muito
tímida mas o suficiente para fazer renascer o desejo de estar só dedicada às
tintas, o mesmo desejo de quando criança. O universo e a crise de 2008
ajudaram-me a concretizar o meu sonho e se assim não fosse dificilmente
embarcaria nesta aventura. Uma aventura feliz, de caminho empedrado e difícil
caminhada.
De
uma forma muito resumida foi assim a minha vida até agora, como todas as vidas
com bons e maus acontecimentos, felicidades e infelicidades com momentos
gloriosos e outros que nem por isso, termino da forma mais comum de iniciar uma
apresentação, sou Ana Cristina Dias, nasci em 1967 em Lisboa.
Sem comentários:
Enviar um comentário